Por: Kennedy Vieira
Muito se fala da reabilitação após a cirurgia para acelerar a recuperação, porém há um outro caminho que, associado com o pós-operatório, pode levar a uma recuperação ainda mais eficaz e contribuir com a diminuição de complicações, não apenas depois como durante o procedimento. Estou falando sobre a pré-habilitação cirúrgica — termo mais atual para pré-operatório —, que visa melhorar áreas funcionais que estão aquém do ideal ou mesmo potencializar o que pode melhorar ainda mais.
A pré-habilitação cirúrgica consiste na avaliação funcional antes da cirurgia eletiva — aquela que não é emergencial e pode esperar para ser realizada — para determinar se o paciente possui aptidão para o procedimento. Caso não esteja apto, o paciente será submetido a um processo de capacitação funcional, que visará diminuir os riscos cirúrgicos, como perda de força, complicações pulmonares e infecções hospitalares por permanência prolongada.
Para o indivíduo que possui aptidão física o mesmo raciocínio também é válido, pois sairá de um nível de condicionamento bom para um nível ainda melhor, reduzindo ainda mais complicações e perdas que venha a ter durante o procedimento.
As perdas funcionais são inevitáveis e a depender do porte, duração e complexidade da cirurgia poderão ser ainda maiores. Neste caso, a pré-habilitação será fundamental, pois otimizará o condicionamento cardiorrespiratório e muscular para que a queda funcional seja menos acentuada. Também facilitará a recuperação no pós-operatório com menores chances de complicações, bem como a retomada das capacidades funcionais prévias em menor tempo.
Segundo os estudos e também pela experiência que adquiri ao longo dos anos no âmbito hospitalar, a cada dia que passamos em repouso absoluto — quando não há contraindicação para mobilização —, perde-se força e condicionamento físico em um ritmo acelerado e o fator idade contribui ainda mais para essa perda. Quando não há esse preparo antes da cirurgia, ao iniciar a reabilitação, a recuperação ocorre a passos lentos enquanto aquele que realizou a pré-habilitação se recupera mais rapidamente, partindo de um pontos onde havia menos perdas funcionais, como mostrado na tabela abaixo.
Pele Banugo, Derek Amoako, Prehabilitation, BJA Education, Volume 17, Issue 12, December 2017, Pages 401–405, https://doi.org/10.1093/bjaed/mkx032
Note que a linha tracejada em verde indica o nível mínimo de funcionalidade e após o procedimento cirúrgico há um decréscimo vertiginoso, abaixo do ideal. Observe que o indivíduo que foi submetido à pré-habilitação (indicado na linha pontilhada), diferente daquele que não passou por esse processo (linha rosa e contínua), apresentou uma evolução funcional antes da cirurgia e a diminuição aproximou-se do limite inferior. Já na fase de reabilitação obteve uma recuperação mais rápida e com funcionalidade superior àquela encontrada no início. O indivíduo que não realizou a pré-habilitação teve uma recuperação mais lenta e com a funcionalidade abaixo do que se encontrava no começo.
Portanto antes de realizar a cirurgia — caso não seja de caráter emergencial — converse com seu cirurgião para ver se há alguma contraindicação do procedimento de pré-habilitação. Não havendo nenhuma restrição, procure um serviço especializado para que possa ser feito o processo, desde a avaliação e tratamento até o pós-operatório, garantindo uma cirurgia com menos riscos e maior recuperação.